quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ecoturismo - Turismo sustentável no Brasil - Helenio Waddington

A experiência da Associação de Hotéis Roteiros de Charme Colocar o turismo no caminho sustentável é um desafio de vulto que requer o comprometimento e parcerias entre a indústria, governos e a sociedade civil. Como uma das mais promissoras fontes econômicas do Planeta, o turismo tem um tremendo potencial para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural de um país, se for conduzido com um planejamento adequado às características biológicas, físicas, econômicas e sociais das localidades em que opera.
No Brasil, como no mundo, o setor de hospedagem é constituído majoritariamente de pequenas e médias empresas, principalmente quando se fala de turismo sustentável ou aquele mais associado aos destinos ecológicos. Por sua rica diversidade de fauna, flora, ecossistemas e variedade socioeconômica, o debate sobre o desenvolvimento do turismo no Brasil (incluindo o ecoturismo) vem buscando caminhos para maior conscientização e compromisso de parte do setor privado com posturas responsáveis, capazes de contribuir à sustentabilidade ambiental, econômica e social do setor.
Se os códigos voluntários de conduta ambiental vêm sendo reconhecidos internacionalmente como elementos importantes no conjunto de medidas adequadas para alcançar o desenvolvimento sustentável do turismo, por entidades como a Organização Mundial do Turismo (OMT) e o PNUMA, no Brasil as referências neste tema ainda são incipientes.
A experiência pioneira da Associação de Hotéis Roteiros de Charme demonstra que a sustentabilidade abraçada pelos novos conceitos é hoje uma realidade no País. É possível praticar uma hotelaria ambientalmente adequada, economicamente viável e socialmente justa. No entanto, o processo de desenvolvimento e implantação do turismo sustentável no Brasil precisa lidar ainda com realidades e desafios, tais como: alto grau de informalidade da atividade turística; falta de conhecimento e educação dos princípios ambientais; e, estabelecimento de normas e critérios factíveis e legítimos.
Buscando garantir este equilíbrio ecológico-social tem-se discutido recentemente em vários fóruns a certificação do turismo no Brasil. Processos de certificação geralmente emitem um selo para empreendimentos e serviços que declaram e atestam possuir determinada qualidade. No caso do turismo, trata-se da adoção voluntária de normas operacionais que visem aprimorar o desempenho sócio-ambiental do empreendimento e seu entorno.
A certificação vem de encontro a uma tendência internacional de estabelecer produtos realmente sustentáveis e de atender ao consumidor mais consciente, também refletindo novas formas e modalidades operacionais, compatíveis com princípios de conscientização empresarial, que vêm se expandindo consideravelmente no Brasil. A conservação do meio ambiente não só tem importância ecológica, mas vem trazendo em muitos casos, incluindo a hotelaria e ecoturismo, benefícios financeiros e sociais, tornando-se ainda mais importante sob o ponto de vista empresarial.
O processo para estabelecimento de um sistema de certificação confiável, necessita de normas e critérios adequados ao contexto em que serão aplicados, gerados por um processo participativo envolvendo diversos segmentos do turismo: sociedade civil, governo e setor privado. Tal processo possibilita um diálogo entre os atores, conhecimento dos interesses e barreiras vividas por cada setor, e a busca de soluções comuns. Fazendo com que esta trajetória, gere uma desejada “apropriação” do sistema a elaborar, fator determinante na adesão às práticas sustentáveis, já que o sistema é voluntário.
Isto quer dizer que a certificação não é a única solução para a sustentabilidade, mas sim uma das ferramentas para se chegar lá.
Neste contexto, é fundamental prosseguir através de um processo verdadeiramente participativo, em base as experiências brasileiras (e aquelas internacionais de relevância) com definição e elaboração de normas e indicadores ambientais possíveis de serem adotados pelo pequeno e médio empresário.
A Associação de Hotéis Roteiros de Charme foi fundada, como entidade privada e sem fins lucrativos por cinco empresários em 23 de junho de 1992, logo após a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Atualmente a Associação congrega 40 hotéis, pousadas e refúgios ecológicos independentes, do Norte ao Sul do País, que buscam praticar a arte da hotelaria, reconhecendo a importância de uma responsabilidade social e ambiental para a sustentabilidade de suas operações e para a sobrevivência de gerações futuras.
A localização crítica de seus hotéis em áreas de conservação e em ecossistemas frágeis, como o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal, demonstra a importância de um contínuo programa ambiental voltado à sustentabilidade do meio ambiente, dos 32 destinos turísticos e das comunidades onde operam em 10 Estados.


Código de Ética

Ao adotar um Código de Ética e Conduta Ambiental em 1999, que permanece ainda como exemplo único no contexto nacional, Roteiros de Charme demonstra seu compromisso com o meio ambiente e um espírito empresarial inovador, imprescindível ao desenvolvimento de um turismo sustentável no Brasil.
Esse Código de Conduta Ambiental (disponível na íntegra via www.roteirosdecharme.com.br) tem por objetivo conseguir, através de sua aplicação, o levantamento, a análise e redução dos impactos causados pela atividade hoteleira. Suas normas observam, em seu contexto, a realidade sociocultural local, sua viabilidade operacional, econômica e financeira, e, finalmente, os direitos e as expectativas dos hóspedes, sem os quais a atividade não sobrevive. Nele procura-se um objetivo comum e não o conflito entre preservação do meio ambiente e a sobrevivência da empresa hoteleira.

Áreas temáticas abordadas no Código:

• Conservação de energia • Conservação de água • Tratamento de esgoto • Preservação de áreas de importância ambiental, fauna e flora e de valores culturais/históricos • Redução de poluição sonora e atmosférica • Redução de impactos ambientais em novos projetos e construções/obras • Reutilização, redução e reciclagem de materiais • Controle de substâncias tóxicas e adversas • Eliminação de queima de lixo e desmatamento • Envolvimento de fornecedores e prestadores de serviços ao hotel Em nossa experiência, fica claro que um empreendimento para atuar de forma responsável necessita estar engajado em minimizar os impactos ambientais de sua operação e estar compromissado não só com os aspectos sociais de seu empreendimento (funcionários e respectivas famílias), mas também com os de seu entorno, ou seja, do destino turístico onde opera. Todos os hotéis da Associação buscam servir como centros de excelência ambiental, visando multiplicar e expandir as experiências adquiridas, compartindo as barreiras e desafios encontrados.
Além da conscientização ambiental empresarial buscamos promover o desenvolvimento social de funcionários dos hotéis associados, suas famílias e das comunidades de entorno onde operamos. Procura-se fornecer treinamento adequado aos funcionários e conscientização ambiental às comunidades anfitriãs, de acordo com as nossas realidades. Um dos pilares essenciais ao sucesso e aos princípios defendidos pela Roteiros de Charme é a educação e capacitação de recursos humanos. Seguir informando, capacitando e treinando, são objetivos imprescindíveis para a sustentabilidade e um dos mais importantes desafios.
Não há verdadeira sustentabilidade num hotel que funciona como perfeito paraíso enquanto fora de suas paredes reina o caos. Perde o hotel, a comunidade, o destino como um todo, e o nosso País.

Fonte:
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./ecoturismo/index.html&conteudo=./ecoturismo/artigos/turismo_sustentavel.html

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